Do Brasil para Ann Arbor: Izabel Varejão arremessa alto dentro e fora da quadra

novembro 8, 2019
Written By:
Fernanda Pires
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A jogadora de basquete brasileira Izabel Varejão faz sua estreia no torneio da National Collegiate Athletic Association (NCAA) neste fim de semana.

A jogadora de basquete brasileira Izabel Varejão faz sua estreia no torneio da National Collegiate Athletic Association (NCAA) neste fim de semana.

ANN ARBOR—Esse final de semana, a pivô de 20 anos, Izabel Varejão, faz seu ‘debut’ na liga universitária dos Estados Unidos, a NCAA. Seu time: o Michigan Wolverines.

Driblando a saudade de casa e a chegada das baixas temperaturas em Ann Arbor, a capixaba de 1,93m entra em quadra—não uma, mas duas vezes. São seus primeiros jogos oficiais: contra o Western Michigan e o Bradley Braves.

“É minha estreia! Estou bem ansiosa, com o coração acelerado,” disse Varejão. “Mas nosso jogo de exibição contra Northwood na semana passada ajudou bastante, ainda mais que joguei bem e tive uma pessoa especial na torcida.”

Se prestou atenção no sobrenome dela, a chance de ter acertado quem estava na arquibancada é grande. Sim, o pivô da seleção brasileira de basquete e tio da atleta, Anderson Varejão. Ídolo do esporte no Brasil, ele jogou na NBA por 13 temporadas seguidas, 12 das quais pelo Cleveland Cavaliers (entre 2004-2016).

“Foi um jogaço e ela foi muito bem,” disse Anderson Varejão. “Achei muito interessante o respeito que ela teve pelas adversárias. A maneira séria com que jogou, com garra, determinada, brigando por todas as bolas, pulando no chão e isso mostra muito da pessoa que ela é e como ela encara cada jogo.”

“Cada vez que ela fazia uma cesta, anunciavam o nome dela, ver a torcida vibrando, vendo o Varejão nas costas. Aquela menina que eu vi crescer, que peguei bebê no colo. Foi emocionante mesmo e muito bacana.”

Varejão é sobrinha do ex-jogador da NBA Anderson Varejão, que jogou ao lado de LeBron James, no Cleveland Cavaliers.

Varejão é sobrinha do ex-jogador da NBA Anderson Varejão, que jogou ao lado de LeBron James, no Cleveland Cavaliers.

E Varejão não impressionou somente o tio. No jogo de estreia, ela foi o destaque entre o trio de jogadoras calouras de Michigan, entre elas as armadoras Maddie Nolan e Michelle Sidor. Em 21 minutos em quadra, marcou 18 pontos, pegou seis rebotes, três bloqueios, dois roubos de bola e foi muito procurada pelas outras atletas.

“Os jogos deste fim de semana vão ser mais desafiadores, mas estou confiante pois estamos nos preparando forte,” disse. A temporada começa em novembro e vai até março, com 30 jogos, uma média de dois por semana.

No comando de Michigan desde 2012, a treinadora Kim Barnes Arico, vem tendo um papel fundamental na adaptação e no desenvolvimento de Varejão como atleta.

Foi o encontro com Arico e as jogadoras de Michigan— na visita oficial em outubro passado—que fez com que Varejão escolhesse Ann Arbor para ser sua nova casa. “Não sei explicar direito. Assim que eu botei os pés aqui, eu já sabia que esse era o meu lugar,” lembrou. “As meninas foram bem acolhedoras e eu vi uma relação de família no time. Foi uma sensação instantânea de me sentir em casa.”

As visitas planejadas a outras universidades foram então canceladas e Varejão começou a organizar sua mudança da Carolina do Norte, onde defendeu por dois anos a escola Neuse Christian, para Michigan.

Em julho, já vestindo orgulhosamente o uniforme azul e amarelo, a atleta iniciou o treinamento para a temporada 2019-20. A primeira divisão da National Collegiate Athletic Association conta com 351 times de basquete universitário feminino.

“Nada se compara ao ritmo e à exigência daqui. A intensidade e velocidade do treino são bem diferentes. A gente corre o tempo,” disse. “O basquete é um esporte de muito contato. É impacto no corpo, no chão, impacto de pulo. Estou trabalhando para ganhar mais força muscular para aguentar, se não, posso quebrar, literalmente!”

Outros pontos, dentro e fora das quadras

Além da meta em representar Michigan bem nesta sua primeira temporada, Varejão trabalha para realizar outros dois sonhos: o de se tornar médica e o de fazer parte do time brasileiro que vai disputar as Olimpíadas de Tóquio no ano que vem.

“Duas metas desafiadoras, mas acredito que com disciplina e determinação, posso chegar lá,” disse. “Tenho muito tempo ainda para batalhar pelo diploma de medicina, mas nem tanto tempo assim para ser escolhida para estar em Tóquio.”

A aspiração em fazer parte do time que representará o Brasil nos jogos do Japão tem uma motivação extra. “É um sonho fazer parte da mesma delegação que meu tio Anderson e essa deve ser a última participação olímpica dele. Então vou fazer de tudo para estar lá.”

“Imagina jogar um mundial com seu tio, fazer história junto,” disse. “Seria uma grande honra estar ao lado do tio Anderson e poder representar o estado do Espírito Santo, onde o basquete está morrendo, principalmente o feminino. E ter todos os familiares juntos, torcendo por nós, seria uma emoção muito grande.”

Convocação e desfechos acadêmicos ainda indefinidos, mas a emoção em ter um rosto bem familiar parte da torcida de Michigan está garantida.

“Com certeza, vou tentar acompanhar esta temporada o máximo possível e sempre que eu puder, estarei presente nos jogos,” disse Anderson. “Na primeira partida, ela não sabia que a gente estaria ali. Então no final do jogo, quando ela viu a gente, começou a chorar. Foi um momento bem bacana, me emocionei mesmo e fiquei com vontade de voltar para assistir mais jogos.”