Quer preservar a biodiversidade? Pense grande, diz pesquisador brasileiro

março 12, 2025
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La legislación brasileña exige que los agricultores protejan ciertos porcentajes de sus tierras en diferentes regiones de Brasil, según el científico investigador de la Universidad de Michigan, Thiago Gonçalves-Souza. Se requiere que las granjas protejan el 80% de la tierra si están ubicadas en la Amazonia, el 35% si están en el cerrado brasileño y el 20% en otros biomas, incluido el bosque atlántico. Esta plantación de caña de azúcar se encuentra en Alagoas, que forma parte del bioma del bosque atlántico. Si bien esto ayuda, un estudio liderado por Gonçalves-Souza encuentra que grandes extensiones de bosque sin alteraciones son mejores para albergar biodiversidad. Foto cortesía de Adriano Gambarini
A legislação brasileira exige que os agricultores protejam certas porcentagens de suas terras em diferentes regiões do Brasil, de acordo com o cientista pesquisador da Universidade de Michigan Thiago Gonçalves-Souza. As fazendas são obrigadas a proteger 80% das terras se localizadas na Amazônia, 35% no cerrado brasileiro e 20% em outros biomas, incluindo a Mata Atlântica. Esta plantação de cana-de-açúcar está localizada em Alagoas, que faz parte do bioma da Mata Atlântica. Embora isso ajude, um estudo liderado por Gonçalves-Souza conclui que grandes extensões de floresta intocada são melhores para abrigar a biodiversidade. Imagem cortesia: Adriano Gambarini

ANN ARBOR—Florestas grandes e intocadas são melhores para abrigar a biodiversidade do que paisagens fragmentadas, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Michigan.

Ecólogos concordam que a perda de habitat e a fragmentação das florestas reduzem a biodiversidade nos fragmentos remanescentes. No entanto, há um debate sobre se é melhor focar na preservação de muitas áreas pequenas e fragmentadas ou de grandes paisagens contínuas. O estudo, publicado na revista Nature e liderado pelo ecólogo brasileiro da U-M Thiago Gonçalves-Souza, chega a uma conclusão sobre esse debate que já dura décadas.

Thiago Gonçalves-Souza
Thiago Gonçalves-Souza

“Fragmentação é prejudicial,” disse Gonçalves-Souza, pesquisador no Instituto de Biologia de Mudança Global da U-M. “Este artigo mostra claramente que a fragmentação tem efeitos negativos sobre a biodiversidade em diferentes escalas. Isso não significa que não devamos tentar conservar pequenos fragmentos quando possível, mas precisamos tomar decisões sábias sobre conservação.”

O estudo foi conduzido por pesquisadores da U-M, da Universidade Estadual de Michigan e mais dez universidades brasileiras, entre elas a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles analisaram 4.006 espécies de vertebrados, invertebrados e plantas em 37 locais ao redor do mundo.

O objetivo foi fornecer uma síntese global comparando diferenças de biodiversidade entre paisagens contínuas e fragmentadas. Os pesquisadores descobriram que, em média, as paisagens fragmentadas tinham 13,6% menos espécies na escala do ponto de coleta (chamada pelos autores de “escala da mancha”) e 12,1% menos espécies na região (chamada de escala da paisagem).

Além disso, os resultados sugerem que espécies generalistas—aquelas capazes de sobreviver em diversos ambientes—são as que predominam nas áreas fragmentadas.
Os cientistas investigaram três tipos de diversidade nesses locais: alfa, beta e gama. A diversidade alfa se refere ao número de espécies em um fragmento específico, enquanto a diversidade beta mede a diferença na composição de espécies entre dois locais distintos. Já a diversidade gama avalia a biodiversidade de toda a paisagem.

Gonçalves-Souza usa um exemplo para ilustrar o conceito: ao dirigir por campos agrícolas no Norte do Espírito Santo, pode-se notar pequenos fragmentos de floresta entre as plantações de cana ou pastos com criação de gado. Cada fragmento pode abrigar algumas espécies de aves (diversidade alfa), mas a composição dessas espécies pode variar de um fragmento para outro (diversidade beta). Já a biodiversidade total da paisagem—seja composta por fragmentos ou por uma floresta contínua—representa a diversidade gama da região.

“O cerne do debate é que algumas pessoas argumentam que a fragmentação não é tão ruim porque, ao criar habitats isolados, geramos composições diferentes de espécies, o que pode aumentar a diversidade gama”, disse Gonçalves-Souza. “Por outro lado, argumenta-se que, em áreas contínuas e homogêneas, a composição de espécies é muito semelhante.”

No entanto, pesquisas anteriores não compararam adequadamente paisagens fragmentadas e florestas contínuas, afirmou Gonçalves-Souza. Por exemplo, alguns estudos analisaram apenas um componente da diversidade ou compararam um pequeno número de florestas contínuas com dezenas de fragmentos.

“Nossa pesquisa mostrou que, ao utilizar dados padronizados e controlar a distância entre fragmentos, a fragmentação do habitat tem efeitos negativos sobre a biodiversidade,” disse o coautour Mauricio Vancine, ecólogo e pesquisador de pós-doutorado da UNICAMP. “Isso tem implicações teóricas para a Ecologia e, mais importante, reforça que a fragmentação não pode ser vista como benéfica para a conservação das espécies.”

Para corrigir essa limitação, Gonçalves-Souza e seus colegas desenvolveram uma análise que levou em conta as diferenças na amostragem entre diversas paisagens. Eles descobriram que a fragmentação reduz o número de espécies em todos os grupos taxonômicos e que o aumento da diversidade beta nas paisagens fragmentadas não compensa a perda de biodiversidade na escala da paisagem.

“Este estudo resolve um debate de meio século sobre como conservar a biodiversidade em áreas naturais, um debate iniciado por grandes cientistas como E.O. Wilson e Jared Diamond”, disse Nick Haddad, coautor do estudo e pesquisador da Universidade Estadual de Michigan.

Além da biodiversidade, Gonçalves-Souza destaca que a fragmentação das paisagens também compromete sua capacidade de armazenar carbono.

“Pesquisadores estão comparando essas duas situações e descobrindo que estamos perdendo a capacidade das paisagens fragmentadas de armazenar carbono”, afirmou Gonçalves-Souza. “Ou seja, a fragmentação não apenas reduz a biodiversidade, diminuindo a diversidade alfa e gama, mas também tem implicações para a prestação de serviços ecossistêmicos como o estoques de carbono.”

O pesquisador espera que o estudo ajude a comunidade conservacionista a superar o debate sobre paisagens contínuas versus fragmentadas e focar na restauração de florestas.

“Acho que não é útil pensar apenas em paisagens contínuas ou fragmentadas. Precisamos proteger a biodiversidade, e esse debate não está ajudando na conservação”, disse ele. “Em muitos países, restam poucas florestas grandes e intactas. Portanto, nosso foco deve estar no plantio de novas florestas e na restauração de habitats cada vez mais degradados. A restauração é crucial para o futuro, mais do que debater se é melhor ter uma grande floresta ou vários fragmentos menores.”

Estudo: A substituição de espécies não resgata a biodiversidade em paisagens fragmentadas. doi.org/10.1038/s41586-025-08688-7