Tendências do “Sharenting”: pais compartilham muito sobre seus filhos nas mídias sociais?
Mais da metade das mães e um terço dos pais discutem a paternidade nas mídias sociais; três quartos deles conhecem alguém considerado “oversharent”, ou seja “pai que expõem demais”
ANN ARBOR, Michigan — Algumas das maiores estrelas da mídia social não têm idade suficiente para twittar: são fotos de crianças com fantasias, tendo chiliques e até mesmo na banheira, todas ilustrando o “newsfeed” do Facebook. Crianças, ainda usando fraldas, dançando sucessos de Beyoncé e Taylor Swift acumulam visualizações do YouTube. Inúmeros blogs compartilham histórias sobre tudo, desde o treinamento para o desfralde até as dificuldades enfrentadas na pré-escola.
Uma pesquisa nacional do Hospital Infantil “Mott”, da Universidade de Michigan, mostra que este fenômeno, conhecido como “sharenting” está aqui para ficar, pelo menos por enquanto, com mais da metade das mães e um terço dos pais discutindo saúde infantil e educação dos filhos nas mídias sociais e quase três quartos dos pais dizendo que mídia social faz com que se sintam menos sozinhos.
Mas até onde essa exposição pode ir para que não atravesse os limites entre vida pública e privada?
“Quando as próprias crianças têm idade suficiente para usar as mídias sociais, muitas delas já têm uma identidade digital criada por seus pais,” diz Sarah J. Clark, diretora associada da pesquisa nacional do hospital infantil da U-M.
“Compartilhar as alegrias e os desafios da paternidade e documentar a vida dos filhos publicamente tornou-se uma norma social, então queríamos entender melhor os benefícios e os malefícios dessas experiências. Por um lado, a mídia social oferece aos pais de hoje, uma forma de comunicação incrivelmente útil. Por outro lado, alguns pais estão preocupados que esta superexposição possa causar riscos de segurança e privacidade para os seus filhos. “
De acordo com a pesquisa, os tópicos mais comuns ao compartilhar conselhos sobre a maternidade/paternidade nas mídias sociais são: como colocar as crianças para dormir (28%), nutrição e dicas de alimentação (26%), disciplina (19%), creches e pré-escolas (17%) e problemas de comportamento (13%). A pesquisa foi feita nos meses de novembro e dezembro e ouviu pais de crianças com idades entre 0 e 4 anos. Quase 70% dos pais disseram que usam mídias sociais para receber conselhos de outros pais mais experientes e 62% disseram que essas trocas de informações ajudam a diminuir suas preocupações.
No entanto, os pais também reconheceram possíveis armadilhas na exposição de informações sobre seus filhos: quase dois terços deles se preocupam que alguém possa “saber demais” da vida privada de seus filhos ou até mesmo compartilhar fotos deles. Mais da metade também se preocupa com o futuro, dizendo que quando mais velhos, seus filhos podem ter vergonha do que foi compartilhado.
“Essas redes unem os pais de maneiras que não eram possíveis antes, permitem que eles lamentem, troquem dicas e conselhos, compartilhem marcos importantes dos filhos, além de mostrar que eles não estão sozinhos,” diz Clark.
“No entanto, existe uma linha tênue entre o que há de positivo e o que pode ser ruim nesta superexposição. No futuro, mesmo que a criança queira, caso se sinta envergonhada sobre o que foi publicado dela, ela não terá controle sobre onde e quem terá acesso à esse material.”
Três quartos dos pais entrevistados também apontaram “superexposição” por parte de outros pais, quando eles compartilharam histórias embaraçosas, divulgaram informações que poderiam identificar a localização de uma criança, ou postaram fotos consideradas “inapropriadas”.
Histórias de “sharenting” que acabaram mal têm virado notícias, como um dos exemplos mais extremos, incluindo um fenômeno chamado “sequestro digital”, relatado no início deste ano. Pais ficaram chocados ao saber que estranhos estavam “roubando” fotos on-line dos seus filhos e as re-compartilhando, como se as crianças fossem suas.
Em outros casos, fotos de crianças tornaram-se alvo de piadas cruéis e “cyberbullying.” Entre os casos mais notórios nos últimos anos foi a de um grupo criado no Facebook, para tirar sarro de bebês “feios”.
“Os pais são responsáveis pela privacidade de seus filhos e precisam ser cuidadosos ao compartilhar na mídia social, para que eles possam desfrutar dos benefícios desta “camaradagem,” mas também protejam a privacidade de seus filhos hoje e no futuro”, diz Clark.