Mães, crianças e TV: um relacionamento complicado que não é de todo ruim
ANN ARBOR – Assistir televisão às vezes recebe má censura – especialmente quando crianças e o tempo em frente à tela preocupam – mas nem tudo é merecido.
Um recente estudo da Universidade de Michigan sobre mães de baixa renda descobriu que, quando assistem com a criança a programação educacional aprovada pelos pais, a televisão é vista como uma ferramenta positiva. As mães também relatam experiências bastante positivas ao gerenciar o uso de mídia de seus filhos, o que desafia os pressupostos negativos sobre mães de baixa renda e gerenciamento de tempo em frente à tela.
No estudo, 296 mães de baixa renda foram perguntadas sobre crenças e regras sobre o comportamento das crianças entre 4 a 8 anos de idade ao assistir TV, como elas gerenciam o tempo da tela e se permitem a televisão durante as refeições.
O tempo de tela que os filhos devem ser permitidos, em particular a TV – que ainda é o meio eletrônico mais popular – é um grande problema em todos os dados demográficos, mas talvez ainda mais para as crianças de baixa renda, disse a primeira autora Sarah Domoff, pesquisadora do Centro de Crescimento e Desenvolvimento Humano da U-M.
Isso porque a televisão é um fator de risco para a obesidade, e as crianças de baixa renda assistem mais TV e têm maiores taxas de obesidade do que as crianças de renda mais alta.
Entender como as mães gerenciam a televisão para crianças pode promover conversas positivas entre médicos e pais de baixa renda, o que, em última instância, pode ajudar a reduzir o tempo da tela, disse Domoff.
Cinco questionamentos surgiram durante a pesquisa. As mães disseram que o que seus filhos assistem na televisão é mais importante do que o quanto. Com esse objetivo, eles se concentram em restringir a programação e, apenas em casos extremos, definem limites de tempo.
As mães estavam confiantes nas escolhas da programação para seus filhos e acreditavam na televisão apropriada. Isso desafia o pressuposto de que as mães de baixa renda experimentam problemas no gerenciamento do uso de mídia de seus filhos, disse Domoff.
As experiências positivas superam as negativas e os desafios parecem refletir em fatores específicos da criança ou em momentos de estresse, como a hora da refeição ou de dormir. As mães também expressaram preocupação com os efeitos de uma programação violenta, mas não se preocupam tanto com os comerciais.
“Isso é importante porque sabemos que a exposição a propagandas de fast food ou bebidas açucaradas foi apontada como um fator de risco para a obesidade infantil”, disse Domoff.
As mães disseram que o tempo que seus filhos querem assistir televisão varia, com alguns exigindo mais do que outros – como por exemplo, para dormir ou comer. Nos casos em que as mães se preocupam com uma criança assistindo tevê demais, elas limitam o tempo de exibição, como também restringem a programação.
Os pesquisadores também descobriram que as mães aproveitam para passar um tempo junto com seus filhos, assistindo uma programação de qualidade – especialmente os observando a aprender.
“Isso é importante porque para famílias com menos recursos, assistir televisão era algo que eles valorizavam, e parecia ser uma atividade importante que elas gostam”, disse Domoff.
Finalmente, se uma mãe permite ou não a televisão durante as refeições varia conforme seus objetivos. Se ela vê as refeições como momento para conversar e vínculo familiar, ela não permite a televisão. No entanto, se as refeições são vistas estritamente como tempo para as crianças comerem, as mães são mais propensas a permitir a televisão se isso ajuda a alcançar esse objetivo.
“As refeições podem ser um momento muito estressante em algumas famílias”, disse Domoff. “A mãe pode precisar chegar a um segundo emprego a tempo e precisa que a criança coma rapidamente. Permitir a televisão durante a refeição pode encorajar determinadas crianças a comer e consequentemente ajuda a mãe a alcançar seus objetivos”.
No entanto, Domoff disse que o uso de TV durante as refeições também é um fator de risco para a obesidade, e outras estratégias para ajudar as crianças a comer devem ser encorajadas.
O estudo, “Maternal beliefs about television and parental mediation in a low-income United States Sample”, em português, “As crenças maternas sobre televisão e mediação dos pais em uma amostra de baixa renda dos Estados Unidos” aparece na edição de junho do Journal of Children and Media.