Apenas continue nadando
ANN ARBOR – Toda manhã, quando o nadador Luiz Gustavo Borges chega ao Canham Natatorium para treinar, ele atravessa o hall de entrada do Club Wolverine. Nesse momento, qualquer cansaço ou sono evaporam. No lugar: gratidão, energia e motivação.
Afinal, ele está passando por dezenas de toucas olímpicas usadas por Michael Phelps, Connor Jaeger e Tyler Clary. No entanto, nada se compara à touca que pertenceu a seu pai, o medalhista olímpico brasileiro Gustavo Borges, um dos maiores nadadores da história da Universidade de Michigan.
Na parede, mais palavras de incentivo: “Não é a cada quatro anos, é todo dia.”
Pura inspiração, diz Borges.
Mergulhando fundo
Desde pequeno, Borges ouviu histórias sobre a paixão do seu pai por Michigan: os jogos de futebol americano aos sábados, as competições do Big Ten e suas inesquecíveis experiências nadando para os Wolverines.
“Eu cresci amando Michigan também, mas sempre quis escolher a melhor faculdade para mim, um lugar para eu conseguir alcançar meu próprio sucesso,” diz Borges. “Então mantive minhas opções abertas.”
Quando chegou a hora de visitar as universidades, ele analisou suas possibilidades e enfrentou algumas “boas pressões familiares.” Mas a decisão de defender Michigan veio facilmente, em outubro de 2016, depois que Borges conheceu o treinador Mike Bottom e seu time. O treinador demonstrou interesse em Borges desde a primeira conversa, e depois de alguns dias de visita, o já futuro Wolverine deixou a U-M vestindo orgulhosamente o uniforme azul e amarelo.
“A natação em Michigan é espetacular; a educação é uma das melhores do mundo,” explica Borges. “E para completar tudo isso? As pessoas são incríveis e querem que você tenha sucesso não apenas academicamente ou nos esportes, mas também fora da piscina, como ser humano.”
Filho da espanhola Bárbara Franco, também nadadora, Borges nasceu na Flórida e cresceu em São Paulo. Desde os 10 anos de idade, ele competia pelo Esporte Clube Pinheiros, um dos principais clubes do Brasil. Entre seus melhores resultados no Brasil: campeão dos 50 metros nado livre, em Jaboticabal, em 2016, 11º lugar nos 50 metros nado livre no Campeonato Nacional de 2017 e finalista no revezamento 4X100m, nado livre, no Fina World Junior , em 2017.
A vida de calouro em Michigan
Como a maioria dos estudantes-atletas, Borges mora em um dormitório da universidade e divide quarto com um colega de equipe. Sua rotina de calouro é bem agitada, ele treina seis vezes por semana, duas vezes ao dia. Quando não está na piscina, Borges faz musculação, fortalecimento e planejamento técnico. Quando não está treinando, ele está na sala de aula, onde faz 15 créditos na Faculdade de Literatura, Ciências e Artes (LSA).
Os sábados são – geralmente – dias livres, quando o atleta finalmente descansa, passa tempo com os amigos e assiste a outros esportes. Como seu pai costumava fazer, Borges foi na maioria dos jogos de futebol americano na Big House durante a temporada e está frequentemente nas arquibancadas dos jogos de basquete, hóquei e vôlei de Michigan.
“Eu passo muito do meu tempo livre com outros atletas,” diz Borges. “É incrível fazer parte do time Wolverine.”
Na verdade, fazer parte da equipe de Michigan mudou as metas de natação de Borges. Desde que seu pai nadou em quatro olimpíadas, ganhando duas medalhas de prata e duas de bronze, Borges sempre quis conquistar pelo menos quatro medalhas. Em Ann Arbor, porém, ele começou a valorizar muito mais as competições em grupo do que as individuais. “Agora, meu maior sonho é ganhar uma medalha de revezamento 4X100m em 2020,” diz ele.
Mas antes dos jogos de verão em Tóquio, Borges diz que tem muito trabalho a fazer. Ele está determinado a ser o melhor nadador possível, para ajudar Michigan conquistar títulos em campeonatos norte-americanos importantes, como o Big Ten e o NCAA.
Até agora, alguns dos grandes resultados de Borges incluem o campeonato Big Ten de 2018 no revezamento de 200 metros livres e o quarto lugar no estilo livre, de 50 jardas (19,28).
“Estamos muito felizes em ter Borges em nossa equipe,” diz o técnico Mike Bottom. “Estamos trabalhando pesado juntos.”
Prestes a completar seu primeiro ano longe de casa, Borges considera Ann Arbor e sua vibrante vida cultural, uma panacéia perfeita para qualquer resquício de saudade. Nem mesmo os dias frios e cinzentos de inverno podem desanimá-lo. “Dizemos que está sempre 27°C e ensolarado no Canham Natatorium,” afirma ele.
Existe apenas um desejo que poderia tornar sua experiência na universidade ainda melhor, diz Borges: que sua irmã Gabriela, de 16 anos, também nadadora, siga o legado da família e se junte ao time Wolverine um dia, assim como ele e seu pai.