A cobertura noticiosa da COVID-19 ampliou a divisão política
A cobertura jornalística da COVID-19 é pelo menos tão politizada e polarizada quanto a cobertura das mudanças climáticas, dizem pesquisadores da Universidade de Michigan.
Tanto as notícias da mídia impressa (incluindo a digital) quanto as da televisiva sobre a COVID-19 foram polarizadas na cobertura inicial da pandemia, o que pode ter moldado as atitudes da pandemia, de acordo com uma nova análise da U-M, sobre a cobertura da mídia dos EUA, de março a maio de 2020.
Usando várias abordagens analíticas de conteúdo assistidas por computador, os pesquisadores descobriram que os políticos apareciam na cobertura impressa com mais frequência do que os cientistas. Políticos e cientistas foram igualmente apresentados nas redes televisivas.
A divisão de opiniões sobre a pandemia foi imediata—ao contrário de outras questões, como a cobertura do aquecimento global, que se tornou politizada ao longo de várias décadas, disse Sol Hart, professor associado de comunicação e mídia da U-M e principal autor do estudo.
“A polarização em torno da COVID-19 é pelo menos tão alta quanto a cobertura da mudança climática, se não maior. Isso é particularmente impressionante, pois a mudança climática é atualmente um dos problemas mais polarizadores hoje, nos EUA,” disse Hart.
Politização é o grau em que os políticos são mencionados em conjunto com a questão, e polarização é como a discussão varia a partir da presença de atores de diferentes partidos políticos.
Hart e seus colaboradores Stuart Soroka, da U-M, e Sedona Chinn, da Universidade de Wisconsin investigaram o grau em que COVID-19 foi politizado e polarizado em histórias publicadas no USA Today, The Washington Post, The Philadelphia Inquirer, The New York Times, The Los Angeles Times, The Minneapolis Star-Tribune e The Atlanta Journal Constitution, com cobertura da ABC, CBS e NBC. O banco de dados incluiu mais de 36.600 histórias.
Para a cobertura da mídia impressa, o nível de politização no conteúdo aumentou rapidamente na época em que uma emergência nacional de saúde nos EUA foi declarada, em março de 2020, e permaneceu elevado durante todo o período da análise, mostrou o estudo.
Embora as menções políticas aumentaram rapidamente, acima das menções de cientistas, a frequência das menções de cientistas permanece bastante consistente ao longo do período de análise, disse Chinn, professor assistente de comunicação científica em Wisconsin.
Os padrões na cobertura televisiva da COVID-19 foram diferentes—enquanto a polarização foi alta, a politização foi menor.
Os políticos foram mais mencionados, em relação aos cientistas, na mídia impressa do que na televisiva. Hart disse que a polarização é mais ou menos uniforme entre as fontes de notícias, o que significa que, embora os políticos sejam menos mencionados nas redes de tv do que na cobertura impressa, as menções ainda estão associadas a uma linguagem altamente polarizada.
Os pesquisadores não ofereceram orientação sobre como os jornalistas deveriam cobrir a ciência emergente e as questões de risco, mas este “tipo de cobertura noticiosa nos primeiros meses da COVID-19 provavelmente amplificará as diferenças partidárias nas percepções da questão,” disse Soroka, professor de Ciência Política e Comunicação e Mídia da U-M.
O estudo foi publicado na Science Communication.