Agentes comunitários de saúde e medicina narrativa no Brasil, perspectivas dos pacientes

abril 12, 2021
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Fernanda Pires
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Usuários do sistema de saúde universal do Brasil relataram que Agentes Comunitários de Saúde (ACS) sempre ouvem e demonstram empatia ao ouvir suas narrativas de saúde e doença e sobre suas necessidades de promoção da saúde, em um novo estudo da Universidade de Michigan.

Professor Rogerio Pinto

Professor Rogerio Pinto

Os usuários disseram que a postura de cuidado dos agentes comunitários e a experiência informal são fatores fundamentais na qualidade dos serviços de cuidado e prevenção que recebem. A nova pesquisa acaba de ser publicada no Journal of General Internal Medicine.

O sistema de saúde do Brasil, um dos maiores do mundo, baseado na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), emprega mais de 300.000 agentes comunitários, envolvidos na atenção básica e prevenção de doenças de 60% da população brasileira.

Com raízes no campo da medicina narrativa, o brasileiro Rogério M. Pinto, autor do estudo e professor da Escola de Serviço Social da U-M, e seus colegas caracterizaram e contextualizaram os tipos de relações profissionais em que os agentes comunitários de linha de frente se engajam na atenção básica:

  • Provedor-Paciente—os agentes comunitários oferecem educação em saúde por meio da compaixão, empatia, confiabilidade, paciência, atenção, comunicação livre de jargões e com altruísmo;
  • Provedor-Colega—os agentes comunitários são impactados negativamente quando os médicos das suas equipes desconsideram seu conhecimento laico;
  • Provedor-Sociedade—os agentes comunitários mobilizam os pacientes tanto civil, como politicamente para defender e abordar as necessidades emergentes de cuidados de saúde e prevenção;
  • Provedor consigo mesmo—os agentes comunitários precisam se engajar em práticas de autocuidado para diminuir a exaustão inerente ao trabalho pesado que desprendem (por exemplo caminhar o dia inteiro fazendo visitas domiciliares) e a falta de recursos médicos.

Se os agentes comunitários e outros trabalhadores nos Estados Unidos usassem a medicina narrativa para orientar a prática diária, a qualidade dos serviços médicos e a satisfação do paciente também poderiam ser melhoradas, observaram os pesquisadores.

Pinto com agentes comunitários de saúde e paciente no Brasil. Crédito da imagem: Arquivo pessoal

Pinto com agentes comunitários de saúde e paciente no Brasil. Crédito da imagem: Arquivo pessoal

“Este estudo à respeito do Brasil e publicado nos Estados Unidos mostra que os agentes comunitários de saúde fornecem vários serviços médicos básicos enquanto facilitam com sucesso o acesso a outros serviços mais especializados,” disse Pinto.

“Os agentes comunitários de saúde inspiram os pacientes a melhorar a saúde usando técnicas da medicina narrativa, muitas vezes não usadas por médicos e enfermeiros com ensino superior. Este trabalho serve como exemplar que não existe de forma semelhante em países desenvolvidos, mas que, sem dúvida, poderiam melhorar a medicina nos EUA e outros países.”

Unidade básica em Birigui. Crédito da imagem: Arquivo pessoal

Unidade básica em Birigui. Crédito da imagem: Arquivo pessoal

Os resultados dessa pesquisa sugerem a necessidade de melhorar as relações Provedor-Colega por meio de capacitação para promover a colaboração interprofissional e o respeito profissional para com os agentes comunitários por parte de médicos, enfermeiros e outros provedores de serviços da área da saúde.

Os co-autores do estudo foram Wilson Galhego-Garcia (Universidade Estadual Paulista, Brasil, Rahbel Rahman (Fordham University) e Margareth Santos Zanchetta (Ryerson University no Canadá).

 

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