Alunos dissecam virtualmente cadáveres em 3D
ANN ARBOR — “Fascinado. Imóvel.” Essas foram as primeiras reações do pós-doutorando brasileiro da Universidade de Michigan, Thiago Nascimento ao ver o cadáver de realidade virtual em 3D flutuando no espaço, como um holograma, na maca invisível.
Ele assistia Sean Petty, funcionário do Laboratório 3D, da UM, que abria as camadas do cadáver, revelando o profundo tecido muscular vermelho. E nada de bisturi. Manejando um joystick e usando óculos especiais, Petty estava a poucos centímetros de distância do corpo virtual, o ampliava e girava para ter uma melhor visão de sua anatomia interna detalhada.
“É uma maneira de aprender o mesmo conteúdo de uma aula tradicional de anatomia, mas de uma forma mais interativa. A experiência é muito mais marcante, porque você está imerso,” disse Nascimento, da Faculdade de Odontologia.
O professor e neurocientista brasileiro Alexandre DaSilva, resolveu utilizar essa tecnologia em sala de aula, no seu curso de dor no programa de Mestrado da Odontologia, para enriquecer o aprendizado de seus estudantes. Ele diz que trabalhar com o cadáver de realidade virtual e poder utilizar essa tecnologia, é uma oportunidade de uma vida inteira, tanto para ele quanto para seus alunos, residentes e doutorandos.
“Quase chorei quando utilizei essa tecnologia pela primeira vez,” disse DaSilva, que também dirige o Laboratório de pesquisas em cefaléia e dor orofacial no Instituto de Neurociência Comportamental e Molecular. “Nunca, nem no meu sonho mais ousado, pensei que isso seria possível.”
O modelo 3D complementa a aula de anatomia convencional de várias maneiras, acrescenta DaSilva. “Nossos estudantes não deixam de ir ao laboratório tradicional de anatomia, mas têm uma ferramenta a mais na hora de dissecar e entender o corpo humano.” Ele explica que os residentes podem, por exemplo, refazer cortes, reutilizar dados, e também ampliar as áreas de interesse para examiná-las mais de perto.
“Há um número limitado de cadáveres. É incrível saber que esta tecnologia está disponível aos estudantes, que podem explorar mais a aula, podem fazer um corte novamente, mudar a direção desse corte,” diz Nascimento. “E nessa aula não há cheiro forte, nem contaminação.”
Pesquisadores do “Projeto Humano Visível”, da Faculdade de Medicina da UM, já tinham dissecado o cadáver em seções muito finas. O grupo compartilhou os dados anatômicos com Petty e com outro colaborador do laboratório 3D, Theodore Hall. Os dois então montaram um código de sotware que transformou o corpo em um modelo de computador, disse Eric Maslowski, Gerente do laboratório 3D.
Maslowski disse que outras disciplinas como engenharia ou ciências naturais também podem usar essa tecnologia para estudar simulações de furacões ou dissecar dinossauros, por exemplo. Atualmente, DaSilva usa a mesma tecnologia para estudar e navegar através de cérebros em 3D, uma nova maneira de examinar os dados de imagens tiradas de pacientes durante ataque real de enxaqueca, e potencialmente outras dores crônicas.
Links Relacionados:
- Alexandre DaSilva: http://bit.ly/1kFxzRu
- U-M School of Dentistry: www.dent.umich.edu
- U-M 3-D Lab: http://um3D.dc.umich.edu
- U-M Visible Human Project: http://vhp.med.umich.edu
- 3-D migraine story: http://bit.ly/1kK75B0