Brasileiros prestam mais atenção em notícias com conteúdo negativo
ANN ARBOR—Pesquisas regularmente mostram que os norte-americanos respondem mais fortemente a notícias negativas, mas um estudo recente sugere que esta é uma ocorrência global, inclusive entre os brasileiros.
A nova pesquisa comprova que, independentemente da medida fisiológica usada, o Brasil é um dos países em que há evidências mais claras de um viés negativo nas reações ao conteúdo das notícias, ou seja, tendência a perceber ou dar ênfase aos acontecimentos negativos do cotidiano.
De acordo com um estudo da Universidade de Michigan realizados em seis continentes e 17 países—entre eles o Brasil— uma pessoa comum é mais ativada fisiologicamente por conteúdos negativos do que por conteúdos positivos.
“Em um período em que as notícias em todo o mundo são especialmente carregadas de negatividade, esse assunto tem um significado óbvio,” disse Stuart Soroka, professor de Estudos da Comunicação e Ciência Política e do Instituto para Pesquisa Social da U-M. “O Brasil é um dos países em que encontramos um viés negativo estatisticamente significativo, não importando qual medida fisiológica seja utilizada.”
Soroka e seus colaboradores no Canadá e Israel explicam que a pesquisa é motivada por um recurso amplamente reconhecido da comunicação moderna—o tom negativo é um recurso definidor das notícias; as boas notícias, ao contrário, são quase sinônimos da ausência de notícias.
O estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, focou nas respostas fisiológicas ao conteúdo noticioso, conforme observado por aproximadamente 1.100 entrevistados. No Brasil, a amostra diversa foi recrutada por assistentes de pesquisa locais, visando a diversidade em termos de idade, educação e ideologia. As experiências foram feitas em uma sala de reuniões de um hotel em Brasília em 2016.
Os entrevistados assistiram sete matérias ordenadas aleatoriamente da BBC World News em um laptop. Todos usavam fones de ouvido com cancelamento de ruído e sensores nos dedos para capturar a condutância da pele e o pulso do volume de sangue.
Das matérias apresentadas, duas foram locais: uma positiva sobre uma companhia de balé para bailarinos com deficiência; e uma negativa, sobre um incêndio em uma boate.
As cinco restantes foram extraídas de uma amostra de oito histórias, quatro positivas e quatro negativas, todas internacionais.
Em média, os participantes exibiram maior variabilidade da frequência cardíaca e maior condutância da pele durante as notícias negativas do que nas positivas. Mas nem todos os países apresentaram um viés de negatividade estatisticamente significativo; e houve um grau muito alto de variação no viés de negatividade entre os indivíduos.
Os pesquisadores concluem que também há uma grande audiência de notícias positivas. As agências de notícias, eles sugerem, podem reconsiderar o ditado, “se há sangue, há manchete.”
Estudo: Cross-national evidence of a negativity bias in psychophysiological reactions to news