Discriminação e marginalização entre os latinos levam a piores resultados de saúde mental e física

maio 3, 2023
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Concept illustration of Latino people. Image credit: Nicole Smith, made with Midjourney

ANN ARBOR—Adultos latinos nos Estados Unidos com preocupações relacionadas à documentação—como medo de deportação—relatam saúde física e mental inferior às pessoas sem esses temores, de acordo com um novo estudo de brasileira da Universidade de Michigan.

Independentemente dos problemas vinculados aos status de documentação, os participantes latinos do estudo que têm uma rede de apoio relatam menos sintomas negativos de saúde mental, mostra a pesquisa.

Fernanda Lima Cross
Fernanda Lima Cross

“Construir um senso positivo de comunidade, seja entre amigos, familiares e vizinhos, ou organizações como igrejas e centros comunitários, serve como um escudo protetor contra sentimentos anti-imigrantes e discriminação sistêmica,” disse a brasileira e primeira autora Fernanda Lima Cross, professora assistente do Escola de Serviço Social da U-M.

“Ter uma rede de apoio social promove sentimentos de pertencimento, o que é útil para aqueles que navegam neste país como imigrantes latinos.”

De acordo com o Migration Policy Institute, existem cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos EUA, sendo a maioria descendente de latinos. Apesar do tamanho dessa população, o acesso a recursos de apoio à saúde mental e física é relativamente baixo devido a barreiras sociais, sistêmicas e linguísticas.

Além disso, a população sem documentação tem uma maior dificuldade em acessar recursos, aumentando a propensão de problemas de saúde física e mental sem diagnóstico.

A consciência de potencial discriminação por parte do governo, de profissionais de saúde e de encontros cotidianos desencoraja indivíduos indocumentados de procurar atendimento, dizem Cross e colegas, que conversaram com quase 500 adultos latinos, que vivem em Michigan, em 2013-14.

“O objetivo desta coleta de dados é fornecer um raio-x da saúde física e mental da população Latinx para aumentar a conscientização sobre as necessidades e pontos fortes da comunidade, o que pode apoiar o desenvolvimento de programas e intervenções, como também fornecer informações para agências e equipes médicas que trabalham com a comunidade.” disse a brasileira.

Embora os dados sejam de uma década atrás, os resultados ainda são aplicáveis hoje, diz Cross. Quando os dados foram coletados, imigrantes latinos em Michigan viviam em hipervigilância devido às blitzes comunitárias durante o governo Obama. Desde então, os imigrantes latinos continuaram a sofrer marginalização e discriminação durante o governo Trump, diz ela.

“Em seguida, todos nós fomos atingidos pela pandemia da COVID-19, que não apenas afetou as comunidades latinox mais profundamente, mas também trouxe à tona a importância das interações sociais como fator subjacente que afeta as disparidades na saúde,” disse Cross. “Agora estamos começando a encontrar um novo normal e sabemos que o apoio às pessoas ao nosso redor faz a diferença. Nossa pesquisa fornece suporte empírico para essa afirmação.”

Os resultados da pesquisa, que aparecem no Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, sugerem que o apoio à comunidade latina afeta diretamente sua saúde.

“O apoio social impacta positivamente a saúde dos indivíduos Latinx,” disse Cross. “Cerca de 90% dos nossos participantes nasceram no exterior e 60% viveram nos EUA por pelo menos 10 anos. Essas porcentagens demonstram o poder do apoio comunitário, mesmo para os imigrantes mais estabelecidos.”

Na década de 2010, quando existia a Casa Latina em Michigan, famílias e indivíduos latinos tinham um espaço para se reunir e encontrar apoio.

“Não temos mais isso, mas a necessidade permanece,” disse Cross. “Precisamos de mais programas e espaços físicos para apoiar os imigrantes latinos, onde eles se sintam seguros, acolhidos e incluídos, especialmente aqueles com problemas de status de documentação. Expressar apoio a esta comunidade pode vir de qualquer um de nós.”