Medição da exposição ao mercúrio: nova técnica isotópica fornece maior precisão para estudos da saúde

março 20, 2013
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Close-up foto de um dente com um enchimento de amálgama. (banco)ANN ARBOR—Um teste comum usado para determinar a exposição das obturações de amálgama dental ao mercúrio pode superestimar significativamente a quantidade de metal tóxico liberado nos materiais de restauração, de acordo com pesquisadores da Universidade de Michigan.

Cientistas concordam que as restaurações de amálgama dental liberam lentamente um vapor de mercúrio na boca. Mas tanto a quantidade de mercúrio liberada, quanto a questão dessa exposição apresentar ou não um significante risco à saúde permanecem controversas.

Muitas vezes, estudos da saúde pública pressupõe que o mercúrio na urina (que é composto principalmente de mercúrio inorgânico) pode ser usado para estimar a exposição ao vapor de mercúrio das obturações de amálgama. Esses mesmos estudos usam frequentemente o mercúrio encontrado no cabelo (que é composto principalmente de mercúrio orgânico) para estimar a exposição ao mercúrio orgânico da dieta de uma pessoa.

Mas um estudo da U-M que mediu isótopos de mercúrio no cabelo e na urina de 12 dentistas da Universidade de Michigan descobriu que a urina deles continha uma mistura de mercúrio de duas fontes: o consumo de peixe contendo mercúrio orgânico e o vapor de mercúrio inorgânico das obturações de amálgama dos próprios dentistas.

Laura ShermanLaura Sherman“Estes resultados desafiam a suposição comum que o mercúrio encontrado na urina é inteiramente derivado do vapor do mercúrio inalado,” disse Laura Sherman, pós-Doutoranda no Departamento de Terra e Ciências Ambientais e autora de um estudo publicado on-line hoje no Jornal Ciências Ambientais e Tecnologia.

“Esses dados sugerem que nas populações que comem peixe, mas tem falta de exposição ocupacional ao vapor de mercúrio, as concentrações de mercúrio na urina podem superestimar a exposição ao vapor de mercúrio das amálgamas dentárias. Esta é uma consideração importante para os estudos que procuram determinar os riscos à saúde da inalação de vapor de mercúrio das amálgamas dentárias,” disse o biogeoquímico da U-M, Joel D. Blum, co-autor do estudo e professor no Departamento de Terra e Ciências Ambientais.

O estudo de Sherman, Blum e seus colaboradores, demonstra que os isótopos de mercúrio podem ser usados para avaliar com mais precisão a exposição humana ao metal — e os riscos de saúde relacionados — do que as tradicionais medições das concentrações de mercúrio em amostras de cabelo e de urina. Especificamente, isótopos fornecem um traçador químico original que pode ser usado para “impressão digital” tanto de mercúrio orgânico do peixe, quanto do vapor de mercúrio inorgânico das amálgamas dentárias.

O mercúrio é um elemento natural, mas anualmente, mais de 2.000 toneladas são emitidas na atmosfera através de fontes geradas pelo homem, como centrais eléctricas alimentadas a carvão, operações de mineração de ouro em pequena escala, metais e produção de cimento, incineração e produção de soda cáustica.

Este mercúrio é depositado na terra e na água, onde microorganismos convertem parte dele em metilmercúrio, um formato orgânico altamente tóxico que se acumula em peixes e nos animais que os comem, incluindo os seres humanos. Os efeitos em seres humanos incluem danos para o sistema nervoso central, para o coração e para o sistema imunológico. Cérebros em desenvolvimento de fetos e crianças mais novas são especialmente vulneráveis.

Joel BlumJoel BlumO mercúrio inorgânico também pode causar danos ao sistema nervoso central e aos rins. A exposição ao mercúrio inorgânico ocorre principalmente através da inalação de vapor do mercúrio elementar. Os trabalhadores da indústria e os mineiros de ouro podem estar em risco, como também os dentistas que trabalham com restaurações de amálgama de mercúrio — embora, cada vez mais, os dentistas passaram a trabalhar com materiais de restauração à base de resina nos últimos anos.

Cerca de 80% do vapor de mercúrio inalado é absorvido pela corrente sanguínea dos pulmões e transportado para os rins, onde ele é eliminado na urina. Porque o mercúrio encontrado na urina é quase inteiramente inorgânico, as concentrações de mercúrio total na urina são comumente usadas como um indicador, ou biomarcador, para a exposição ao mercúrio inorgânico das amálgamas dentárias.

Mas o estudo de Sherman, Blum e seus colaboradores sugere que a urina contém uma mistura de mercúrio inorgânico de amálgamas dentárias e metilmercúrio de peixe que passa por um tipo de degradação química no corpo, chamada desmetilação. O mercúrio desmetilado de peixe contribui significativamente para a quantidade de mercúrio inorgânico na urina.

Os cientistas da U-M se basearam em um fenômeno natural chamado fracionamento isotópico para distinguir entre os dois tipos de mercúrio. Todos os átomos de um determinado elemento contém o mesmo número de prótons em seus núcleos. No entanto, um determinado elemento pode ter várias formas, conhecidas como isótopos, cada um com um número diferente de nêutrons em seu núcleo.

O mercúrio tem sete isótopos estáveis (não-radioativos). Durante o fracionamento isotópico, diferentes isótopos de mercúrio reagem para formar novos compostos com taxas levemente diferentes. Os pesquisadores da U-M se basearam em um tipo de fracionamento isotópico, chamado fracionamento independente de massa para obter as impressões digitais químicas que lhes permitiram distinguir entre a exposição ao metilmercúrio de peixe e ao vapor de mercúrio das obturações de amálgama dental.

Além de Sherman e Blum, Alfred Franzblau e Niladri Basu da Escola de Saúde Pública da U-M, são co-autores do estudo do Jornal Ciências Ambientais e Tecnologia. Blum recebeu financiamento do Professorado John D. MacArthur e Basu recebeu uma verba de treinamento do Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional e do Instituto de Michigan – Pesquisa Clínica e em Saúde.