Novos resultados do DESI reforçam indícios de que a energia escura pode estar evoluindo
O impacto da energia escura pode estar mudando ao longo do tempo, sugerindo que o modelo padrão do funcionamento do universo pode precisar de uma atualização, diz pesquisador brasileiro

O destino do universo depende do equilíbrio entre a matéria e a energia escura, o ingrediente fundamental que impulsiona sua expansão acelerada.
A colaboração do Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI, na sigla em inglês), que inclui pesquisadores da Universidade de Michigan, está gerando os maiores mapas 3D do universo para rastrear a influência da energia escura nos últimos 11 bilhões de anos. Com seus resultados mais recentes, a equipe fortaleceu a hipótese de uma possível mudança radical na cosmologia.
Os resultados indicam que a energia escura, amplamente considerada uma “constante cosmológica”, pode estar evoluindo ao longo do tempo de maneiras inesperadas.

“Estamos testemunhando uma mudança na forma como os seres humanos entendem o universo. Acho isso incrível,” disse Uendert Andrade, pesquisador brasileiro da U-M e co-líder da equipe de Oscilações Acústicas de Bárions do Ano 3, que forneceu informações fundamentais para interpretar os resultados do DESI.
O DESI é um experimento internacional com mais de 900 pesquisadores de mais de 70 instituições ao redor do mundo e é gerenciado pelo Laboratório Nacional Lawrence Berkeley do Departamento de Energia dos EUA.
A colaboração divulgou suas descobertas em diversos artigos que serão publicados no repositório online arXiv e em uma apresentação no Global Physics Summit da American Physical Society, em Anaheim, Califórnia.

“O que estamos vendo é profundamente intrigante,” disse Alexie Leauthaud-Harnett, co-porta-voz do DESI e professora da Universidade da Califórnia, Santa Cruz. “É emocionante pensar que podemos estar à beira de uma grande descoberta sobre a energia escura e a natureza fundamental do nosso universo.”
A equipe da U-M no DESI também incluiu Dragan Huterer, professor de física e co-líder do grupo que analisou e interpretou os primeiros dados cosmológicos do DESI, que inicialmente sugeriram que a energia escura era dinâmica. Gregory Tarlé, professor emérito de física, liderou a equipe que construiu os sistemas robóticos que controlam os 5.000 “olhos robóticos” do DESI.
“O caminho do DESI sempre passou pela Universidade de Michigan,” disse Andrade. “É muito empolgante ajudar a manter essa trajetória.”
O DESI é um dos levantamentos mais abrangentes do cosmos já realizados. O instrumento de última geração pode capturar luz de 5.000 galáxias simultaneamente e foi construído e é operado com financiamento do Escritório de Ciência do Departamento de Energia dos EUA. O DESI está montado no Telescópio Nicholas U. Mayall de 4 metros, no Observatório Nacional Kitt Peak, um programa do NOIRLab da NSF no Arizona.

O experimento está atualmente no quarto dos seus cinco anos de levantamento do céu e, até o fim do projeto, pretende medir cerca de 50 milhões de galáxias e quasares. Os quasares são objetos extremamente distantes e brilhantes, com buracos negros em seus núcleos.
A nova análise usa dados dos três primeiros anos de observações e inclui quase 15 milhões das galáxias e quasares mais bem medidos. É um grande avanço, aumentando a precisão do experimento com um conjunto de dados mais de duas vezes maior do que o utilizado na primeira análise do DESI, que já sugeria uma energia escura em evolução.
“Nossos resultados são um terreno fértil para nossos colegas teóricos enquanto eles exploram novos e antigos modelos, e estamos animados para ver o que eles irão descobrir,” disse Michael Levi, diretor do DESI e cientista pesquisador da U-M, que trabalhou com Tarlé na construção dos olhos robóticos. “Seja qual for a natureza da energia escura, ela moldará o futuro do nosso universo. É notável que possamos olhar para o céu com nossos telescópios e tentar responder a uma das maiores perguntas que a humanidade já fez.”
A nova análise também incluiu os estudantes de pós-graduação Otavio Alves, Prakhar Bansal, Sikandar Hanif e Jiaming Pan.
Vídeos discutindo a nova análise do experimento estão disponíveis no canal do DESI no YouTube.