O universo, o quebra-cabeça e a engenharia aeroespacial
Ann Arbor – A apenas alguns dias de conquistar o diploma de Engenharia Aeroespacial, com especialização secundária em Física, pela Universidade de Michigan, o paulista Cauê Borlina, não podia estar mais feliz e com a sensação de dever cumprido; e muito bem cumprido. Este mês, ele conclui o ensino superior em Ann Arbor, com nada menos que quatro artigos publicados em jornais acadêmicos da sua área e sete premiações e honras estudantis.
O prêmio mais recente, o “Distinguished Leadership” da Escola de Engenharia, foi recebido em março e homenageia estudantes que demonstram liderança e excelente serviço à universidade e comunidade.
“Essas premiações nos impulsionam. Me lembro até hoje da primeira que recebi, ainda no primeiro ano de faculdade. Eu era o mais novo do grupo e fui reconhecido como líder estudantil do laboratório de fabricação de sistemas espaciais (ou Student’s Space System Fabrication Laboratory, S3FL). Foi uma motivação e tanto,” lembra.
Com apenas de 22 anos, o brasileiro pesquisou tópicos complicados como sensores de detecção e acúmulo de gelo em aeronaves, aplicações eletrodinâmicas da poeira e dos redemoinhos de ventos (conhecidos como dust devil) comparando descobertas na Terra e extrapolando para Marte. Usando dados colhidos do Planeta Vermelho pela Missão Curiosity, da NASA, Cauê também estudou as prováveis geadas, as evoluções térmicas e físicas de rochas sedimentares da cratera Gale em Marte.
“O universo é fascinante. A cada descoberta através da minha pesquisa, mais eu me interessava não somente pelo nosso planeta mas pelo sistema solar e mais eu queria e quero saber,” disse o formando. Entre seus principais interesses, a formação planetária, os processos de superfície e a evolução do clima e seu impacto em diferentes planetas do sistema solar.
Fã de aviões desde pequeno, ele conta que queria aprender a projetar aeronaves quando chegou na U-M, em 2012, e confessa que não tinha a menor ideia das oportunidades que teria, nem da confiança que seria depositada nele. “Aqui podemos nos envolver em todos os projetos que temos interesse e sempre nos dão liberdade e incentivo financeiro, além de estimularem nossa criatividade. Aqui, aprendemos a ser um líder,” diz.
Como não faltou interesse, nem dedicação, durante esses quatro anos na escola de engenharia, o brasileiro também fez parte do time científico da missão da NASA MSL – Mars Science Laboratory. Foi estagiário do departamento de Ciência Planetária da NASA (2015) estudando a estrutura física da lua de Júpiter, Europa, um dos lugares que os cientistas acreditam que possa existir vida no sistema solar, e participou de pesquisas sobre a formação e mutação de poeira no lago Owens, uma praia seca na Califórnia.
Em uma das pesquisas mais marcantes, passou o verão de 2014 no Departamento de Ciências Geológicas e Planetárias do California Institute of Technology, trabalhando em um dos tópicos mais discutidos quando o assunto é Marte: como que a cratera onde a Curiosity pousou se formou a bilhões de anos atrás? A pergunta é um mistério no campo.
Outro projeto de destaque, que vai deixar saudade é o Aerospace Day, criado por ele e um grupo de estudantes, para aproximar as crianças da ciência de uma maneira divertida e informativa, com corridas de pequenas aeronaves com controle remoto, construção de alguns modelos e muitas outras atividades. “É um dia intenso de experiências interativas aeroespaciais, onde podemos mostrar aos adolescentes e pais como a ciência é apaixonante, super relevante, e pode ser divertida também,” disse.
Com o diploma nas mãos, Cauê já tem destino certo. Ele foi aceito nas seis universidades americanas que aplicou e decidiu pelo programa de PhD em Ciências Planetárias do MIT. Ele quer ser professor e tentar entender a formação dos planetas. “Nosso universo é um enorme quebra cabeça e eu quero descobrir o lugar de cada peça,” brinca.