Pais: pense duas vezes antes de pressionar seu comedor exigente

julho 26, 2018
Written By:
Fernanda Pires
Contact:

ANN ARBOR—Sério, alguém realmente gosta de ervilhas? Mais importante, os pais devem pressionar os filhos a comê-las de qualquer maneira? E essa ordem traz benefícios ou não para as crianças?

Os pais enfrentam muitos dilemas com essa questão. Um recente estudo da Universidade de Michigan esclarece algumas das confusões, diz Julie Lumeng, diretora do Centro para Crescimento e Desenvolvimento Humano da U-M e médica do Hospital Infantil C.S. Mott.

O grupo de Lumeng descobriu que pressionar as crianças a comerem alimentos que não gostam não está ligado à mudança de peso ou alterações no comportamento infantil. No entanto, o uso de coerção pode causar tensão no horário das refeições e prejudicar o relacionamento entre pais e filhos.

O estudo, publicado na revista Appetite, se propôs a responder várias perguntas: os pais devem pressionar as crianças a comer, e quais são as consequências para o peso das crianças e para a alimentação exigente? A criança aprenderá que deve comer tudo, resultando em obesidade, ou vai aprender a comer vegetais e outros alimentos saudáveis, o que ​a ajudará a evitar ganho de peso?

Lumeng disse que ambos os cenários fazem sentido, mas o estudo descobriu que nenhum dos dois acontece.

“Em suma, descobrimos que durante mais de um ano de vida na infância, o peso das crianças permaneceu estável no gráfico de crescimento, se eles eram comedores exigentes ou não,” disse Lumeng. “As crianças exigentes também não mudaram seus hábitos: permaneceram os mesmos, sem ou com a pressão dos pais.”

“Então, perguntamos se a pressão levava a uma diminuição da alimentação seletiva, e isso não aconteceu. Não detectamos nenhuma ligação entre a pressão e a alimentação seletiva em qualquer um dos outros resultados.”

Lumeng lembra uma anedota de sua própria infância.

“Uma noite no jantar, minha mãe serviu ervilhas para ambas as minhas irmãs, mas ela me ofereceu cenouras. Ela me disse com muita gentileza: ‘Estou te servindo cenouras porque você não gosta de ervilhas’. Eu me senti amada e respeitada, e sempre vou lembrar que ela disse isso,” disse Lumeng.

“O resultado desta pesquisa nos mostra que a pressão para que a criança coma determinados alimentos precisa ser feita com cautela e não temos muitas evidências de que isso ajuda em sua nutrição,” disse ela. “Como pai, se você pressiona, precisa se certificar de que está fazendo isso de uma maneira que seja boa para o relacionamento com seu filho.”

Os pesquisadores estudaram esse assunto por 10 a 15 anos, e Lumeng questionou se as descobertas de sua equipe seria exceção. Mas depois de compará-las com dezenas de outros estudos de comportamento alimentar, eles encontraram conclusões semelhantes.

“Há algumas coisas que os pesquisadores e o público realmente querem que sejam verdadeiras, e quando os pesquisadores descobrem nos seus estudos que não são verdadeiras, eles, às vezes, simplesmente continuam pesquisando o tópico na esperança de encontrar alguma evidência de que seja verdade,” Lumeng disse. “Então, metade do valor deste artigo são as descobertas, mas a outra metade é ver como nossos resultados se comparam a outros estudos.”

No fim do dia, vale à pena brigar com um comedor exigente? O que se pode atestar é que essa batalha pode ser frustrante e inconveniente para os pais. E raramente tem um problema de saúde associado a deficiências nutricionais e ao baixo crescimento. No fim, é apenas uma pequena falha no comportamento das crianças que os pais não devem gastar muita energia para eliminar, diz ela.

“Lidar com o consumo seletivo se enquadra na categoria de como você deve ter pequenas atitudes que podem tornar as refeições melhores para todos, mas não reprimir algo que possa ser parte da personalidade de seu filho,” disse ela.

O estudo tem algumas limitações, segundo Lumeng: houve um desgaste na população estudada, e os resultados podem não ser generalizados ​​para outras populações, além das crianças de baixa renda. Há um debate sobre a melhor forma de mensurar a alimentação seletiva e esse estudo incluiu uma variedade de medidas que refletem a relutância das crianças em ingerir novos alimentos e alimentos familiares.

Estudo: “Picky eating, pressuring feeding, and growth in toddlers”
Último livro de Lumeng: “Pediatric Food Practices and Eating Behaviors”
Julie Lumeng