ENTREVISTA COM ESPECIALISTA

Donald Trump fará seu segundo discurso de posse em 20 de janeiro, após ser empossado para mais um mandato presidencial.

Em um discurso que ocorre enquanto ele assume o cargo com uma condenação criminal e um país dividido, Trump provavelmente abordará sua filosofia de governo, reforma imigratória, cortes de impostos e devolução de poder às pessoas, minimizando a interferência do governo, disse Aaron Kall, especialista da Universidade de Michigan.

Kall é diretor de debates e coautor do livro, “I Do Solemnly Swear: Presidential Inaugural Addresses of the Last Five Decades” (Em Português: Eu Juro Solenemente: Discursos Inaugurais Presidenciais das Últimas Cinco Décadas.)

Como este discurso será diferente daquele que Trump fez oito anos atrás?

Donald Trump venceu a presidência em 2016. Foi uma vitória inesperada, e o processo de preparação para a transição de governo foi caótico. Desta vez, ele está em uma posição muito melhor, venceu o voto popular e teve uma vitória expressiva no Colégio Eleitoral. Ele já esteve nessa posição antes. O primeiro discurso, “Carnificina americana”, foi muito sombrio, retratando aspectos negativos como crime e imigração em todo o país.

Acho que este discurso será muito mais otimista, semelhante aos de Reagan e Kennedy, tentando impulsionar sua agenda para os primeiros 100 dias, que tratará de cortes de impostos e política de imigração. Será muito mais confiante, considerando que ele já atuou como presidente e quer estabelecer as bases para governar. Ele certamente começará com força desde os primeiros dias.

Trump também se beneficia desta vez pela data do discurso. Será em uma segunda-feira, feriado de Martin Luther King Jr., o que pode atrair uma audiência maior. Ronald Reagan, em 1981, teve mais de 40 milhões de pessoas assistindo ao discurso. Com as pessoas em casa, tanto pessoalmente quanto assistindo pelo país, Trump pode obter uma audiência realmente grande, o que é muito importante.

Como os discursos de posse refletem o contexto histórico em que são feitos?

Os discursos de posse geralmente refletem o contexto histórico em que são feitos, sim. Eles existem desde George Washington. Após a posse do presidente, o discurso ocorre diretamente em frente a uma audiência de milhares, até milhões, como no caso de Barack Obama em 2009. É um discurso de 15 a 20 minutos.

A primeira coisa é agradecer às pessoas presentes, prestar homenagem aos ex-presidentes presentes e falar sobre o presidente que está deixando o cargo. Será muito interessante ver as palavras que ele usará para falar sobre Joe Biden e Kamala Harris, que estarão presentes, tentando aumentar o bipartidarismo. O objetivo principal da posse é a transição pacífica de poder.

Depois disso, ele falará sobre sua filosofia de governança. Muitas vezes, nesses discursos, os presidentes se referem a discursos passados, podem usar referências religiosas e falar sobre a Bíblia ou seus poetas favoritos. É mais sobre um tema geral e filosofia de governança do que questões políticas específicas, que serão reservadas para o discurso no Congresso mais tarde na primavera. Ele provavelmente falará sobre sua filosofia de governança, reforma imigratória, cortes de impostos e devolução de poder ao povo, minimizando a interferência governamental. Isso foi algo forte em Reagan em 1981. Foi um tema do discurso de 2017, e acho que continuará com uma visão mais otimista, dada a recente vitória.

De que forma um discurso de posse pode influenciar a opinião pública ou o sentimento nacional?

Os discursos de posse podem influenciar a opinião pública ou o sentimento nacional. Os últimos meses têm sido muito importantes. Eles formam opiniões sobre o governo que está por vir. Isso foi algo com que Trump teve dificuldades em 2017. Ele estava em desvantagem, não venceu o voto popular, e isso torna o governo difícil, mesmo com os republicanos tendo controle total do Congresso. Atualmente, ele tem uma margem muito estreita na Câmara dos Deputados. Ele vai precisar de cada voto para sua política de impostos e imigração. Ele está bastante popular no momento, com sua maior aprovação de todos os tempos.

Um discurso como este, de apenas 15 a 20 minutos, pode definir o tom do governo e colocar sua agenda legislativa de 100 dias em bases sólidas. É uma oportunidade, com dezenas de milhões assistindo, para começar seu segundo mandato e administração com força total. Ele será o segundo presidente a servir dois mandatos não consecutivos, um aspecto único deste discurso de posse.

Durante o discurso, ao que você estará atento?

Estarei prestando atenção no início do discurso. O que ele dirá a Joe Biden? Eles já se encontraram na Casa Branca, ambos agradecendo por sua presidência e ajuda no processo de transição. Ele mencionará Kamala Harris, sua adversária na última eleição? Essa questão surgiu na última vez com Hillary Clinton. Jimmy Carter acabou de falecer. Normalmente, todos os ex-presidentes estão presentes. Ele dirá algo agradável sobre ele?

E, além disso, será feriado de Martin Luther King—esta é uma das vezes em que isso acontece. O cenário e a conexão com o famoso discurso de King, a uma curta distância de onde ele estará falando na Frente Oeste do Capitólio, são aspectos que podem aumentar o bipartidarismo e definir o tom para aquele discurso de 15 a 20 minutos antes de entrar nos detalhes políticos. Isso pode iniciar o discurso com o tom certo e estender um ramo de oliveira aos eleitores que não o apoiaram, mas que ele espera governar ao assumir a presidência.