Se pudessem ditar as regras, a primeira seria: não poste sobre mim na mídia social

O que as crianças esperam dos pais quando o assunto é tecnologia

O que as crianças esperam dos pais quando o assunto é tecnologiaANN ARBOR – Pare de postar fotos minhas sem permissão. Coloque o seu telefone de lado quando estou falando com você. Não mande mensagens de texto enquanto dirige, nem mesmo no farol vermelho.

Estas são algumas das regras para Internet e smartphones que as crianças gostariam de estipular para seus pais, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan e da Universidade de Washington.

Foram entrevistadas 249 famílias com crianças com idades entre 10 e 17 anos, que responderam perguntas sobre regras familiares e expectativas com o uso da tecnologia, como também quais regras são mais fáceis ou difíceis de seguir. O estudo é um dos primeiros a explorar as expectativas das crianças em relação ao uso da tecnologia dos pais.

Além de revelar os sentimentos das crianças sobre igualdade e “oversharing”, a pesquisa também lança uma luz sobre as regras mais eficazes de tecnologia e as abordagens familiares mais comuns. O estudo acaba de ser apresentado, no início de março, na conferência da Association for Computing Machinery, em São Francisco.

“Gerenciar o uso da tecnologia das crianças já foi muito mais fácil para os pais. Eles desligavam a televisão quando um show acabava ou ficavam de olho nos filhos quando eles usavam o computador da família na sala de estar,” disse o autor Alexis Hiniker, a Universidade de Washington doutorando em design Centrado Humano e Engenharia. “Mas agora que praticamente todos os membros da família têm telefone, se tornou cada vez mais difícil definir os limites.”

Quando pesquisadores perguntaram para as crianças quais regras de tecnologia eles desejavam que seus pais seguissem, as respostas se dividiram em sete categorias gerais:

  • Pare com o “oversharing”. Os pais não devem compartilhar informações online sobre seus filhos sem a permissão deles.
  • Sem hipocrisia. Os pais devem fazer o que ensinam aos filhos, como não usar a Internet durante as refeições.
  • Supervisionar as crianças. Os pais devem estabelecer e fazer cumprir as regras relacionadas com a tecnologia para efeitos de proteção das crianças.
  • Dê autonomia. Crianças acreditam que os pais devem deixar com que elas tomem suas próprias decisões sobre o uso da tecnologia, sem interferência.
  • Uso moderado. Os pais devem usar a tecnologia com moderação e em equilíbrio com outras atividades.
  • Não utilizar tecnologia enquanto dirige. Os pais não devem enviar mensagens de texto durante a condução ou no farol vermelho.
  • Estar presente. As crianças acham que não deveria haver nenhuma tecnologia em determinadas situações, como por exemplo, quando eles estão tentando falar com um dos pais.

“Um número de crianças, duas vezes maior, se comparado aos pais, expressaram preocupações sobre a divulgação excessiva de informações pessoais sobre eles no Facebook e outras mídias sociais sem permissão”, disse Sarita Schoenebeck, professor assistente da Escola de Informação da Universidade de Michigan. “Muitas crianças disseram ter achado embaraçoso o conteúdo postado, e se sentiram frustrados quando seus pais continuaram publicando esse material.”

O estudo também analisou quais tipos de regras familiares foram mais fáceis de serem seguidas. Famílias relataram que as regras que proíbem totalmente o uso de determinada tecnologia ou mídia social são mais fáceis de cumprir, do que as regras que proíbem o uso da tecnologia apenas em determinadas situações. Por exemplo, uma proibição total de Snapchat ou de um jogo de vídeo em particular foi mais eficaz do que a proibição do uso do telefone durante a igreja, um evento importante ou de mensagens de texto com amigos depois de um certo horário à noite.

“Ficamos surpresos ao descobrir que quando a mãe e o pai dizem: ‘Você não pode usar o Instagram,’ é mais fácil para as crianças aceitarem e seguirem a ordem do que quando dizem: ‘Você pode usar o Instagram, mas não durante o jantar,’ disse Hiniker.

A maioria das quase 500 regras de tecnologia diferentes relatadas pelas famílias se resumiram em uma dezena de categorias, que incluem:

  • Sem tecnologia em determinados momentos
  • Sem tecnologia até que certas obrigações sejam cumpridas, como lição de casa ou prática musical
  • Prazos fixos de quanto tempo as crianças podem usar a tecnologia
  • Restrição de custos
  • Expectativas para equilibrar o uso da tecnologia com outras atividades, como brincadeiras ao ar livre
  • Auditoria dos pais, que lhes dão direito de verificar os telefones dos filhos a qualquer momento e acessar contas de mídia social
  • Proibição de determinado sites, jogos, atividades ou dispositivos
  • Regras sobre comportamento on-line, como não ofender ou diminuir as pessoas, usar linguagem inadequada ou compartilhar conteúdo sexual

Enquanto os pais tendem a não se preocupar com regras diferentes entre eles e os filhos, muitas crianças viram essa atitude como hipócrita. As crianças também acharam mais fácil seguir regras de tecnologia desenvolvidas coletivamente e quando os pais também as obedecem.

Entre as soluções técnicas para ajudar os usuários a encontrarem mais equilíbrio, estão: “tempo para a família”, ferramenta que desabilitaria notificações por 30 minutos, sites de notícias com conteúdo mais resumidos e de fácil digestão e streaming de vídeo que não iniciam automaticamente um novo episódio assim que o último termina.

“Provavelmente, os atuais usuários ficariam mais felizes se existissem mais aplicativos e dispositivos voltados para a promoção de hábitos saudáveis do uso tecnologia”, disse Julie Kientz, da Universidade de Washington. professor associado de Design Centrado Humano e Engenharia. “E essas ferramentas poderiam atrair mais famílias que já decidiram pela regra do não em tudo.”

O título do estudo é: “Not at the Dinner Table: Parents’ and Children’s Perspectives on Family Technology Rules”, em português Não na mesa do jantar: Perspectivas dos pais e dos filhos sobre Regras de Tecnologia da família.”

Full study
Sarita Schoenebeck