Exames no cérebro mostram que níveis de dopamina caem durante ataques de enxaqueca
ANN ARBOR—Usando PET Scans do cérebro, ou seja uma modalidade de diagnóstico por imagens, os investigadores mostraram que nível de dopamina cai e oscila em momentos diferentes durante uma enxaqueca. Esse resultado pode ajudar os cientistas a entenderem melhor as terapias baseadas em dopamina para tratamentos da enxaqueca, além de facilitar a compreensão do comportamento dos pacientes durante um ataque.
A conexão entre a dopamina e a enxaqueca tem sido pouco entendida tanto na área terapêutica, quanto na de pesquisa, disse o neurocientista brasileiro Alex DaSilva, professor da Faculdade de Odontologia e investigador principal. Dopamina – neurotransmissor que faz com que o cérebro se sinta bem – ajuda a regular a emoção, a motivação e a percepção sensorial.
Médicos e equipes em atendimento de emergência, muitas vezes, receitam aos pacientes com enxaqueca medicamentos chamados antagonistas de dopamina, para bloquear receptores hipersensíveis de dopamina , que podem ser afetados por flutuações bruscas de dopamina, amenizando assim, ataques de enxaqueca.
Neste estudo, os pesquisadores da Faculdade de Odontologia e Medicina da U-M fizeram várias medições dos níveis de atividade do cérebro e de dopamina de oito pacientes com dores de cabeça frequentes e oito pacientes saudáveis durante ataques de enxaqueca, explicou DaSilva. Eles compararam os participantes do estudo entre eles, com ou sem ataques espontâneos de enxaqueca, e também pacientes com migrânea com pacientes saudáveis.
Quando os pacientes de enxaqueca tinham um intervalo sem dores de cabeça, seus níveis de dopamina ficavam estáveis e equilibrados como os pacientes saudáveis, explicou DaSilva. Mas durante um ataque, os níveis de dopamina dos pacientes com enxaqueca caíram significativamente.
“A dopamina é um dos principais neurotransmissores que controlam a sensibilidade sensorial,” disse Kenneth Casey, co-autor do projeto e professor emérito de Neurologia da U-M. “Portanto, a diminuição de dopamina poderia produzir um aumento da sensibilidade sensorial vindos da pele, músculo e vasos sanguíneos, normalmente indolores ou imperceptíveis, pudessem se tornar dolorosos.”
Este resultado suporta a hipótese realizada por alguns pesquisadores que a enxaqueca é uma doença periódica caracterizada por hipersensibilidade sensorial, durante a qual luz, som e odores podem se tornar inusitadamente intensos, Casey disse.
O pesquisador brasileiro também disse que foi surpreendido por um dos resultados do estudo, feito quando os pacientes que estavam descansando durante um ataque de enxaqueca, dentro do PET Scan, tiveram um pequeno pico no nível de dopamina e a piora dos sintomas, assim que os pesquisadores aplicaram calor em suas testas.
Esta condição em pacientes com enxaqueca é chamada alodínia – ou seja, quando um estímulo que normalmente não causa dor, acaba causando. DaSilva disse que o repentino e pequeno aumento da dopamina foi provavelmente uma reação aversiva à estimulação do ambiente.
Essa pequena flutuação foi apenas uma recuperação parcial da dopamina, mas pode provocar um maior sofrimento porque os receptores da dopamina estão altamente sensíveis durante o ataque, e até mesmo uma pequena recuperação induziria a mais náuseas, vômitos e outros sintomas relacionados com a enxaqueca.
DaSilva disse que além da dor da enxaqueca, a queda da dopamina em geral também poderia explicar o comportamento de isolamento e afastamento das pessoas com migrânea durante um ataque.
“Esta redução e flutuação da dopamina durante um ataque de enxaqueca é o cérebro dizendo que algo não vai bem internamente, e que precisa de tempo para se curar, forçando a pessoa a desacelerar, ir para um quarto escuro e evitar qualquer tipo de estimulação,” disse.
A pesquisa, Dopamine D2/D3 Imbalance During Migraine Attack and Allodynia In Vivo, aparece na Revista Neurologia.