Por que o Rio de Janeiro precisa dos Jogos Olímpicos agora mais do que nunca?

agosto 4, 2016
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Q&A com expert

Por que o  Rio de Janeiro precisa dos Jogos Olímpicos agora mais do que nunca?

Nos próximos 14 dias, todos os olhos vão estar no Brasil e nos Jogos Olímpicos. Andrei Markovits, professor de Política Comparada na Universidade de Michigan, acredita que se os atletas brasileiros tiverem um bom desempenho, o país vai ter um impulso e a presidente Dilma Rousseff pode até retomar o poder. Os jogos começam oficialmente nesta sexta-feira, 5 de agosto.

Q: O Brasil foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos em outubro de 2009. A situação do país mudou muito desde então. O Brasil pode se beneficiar deste megaevento neste momento?

R: Uma vez que os nazistas reformularam, com sucesso, os Jogos Olímpicos no primeiro mega evento esportivo do mundo em Berlim, de 1936, todos os jogos olímpicos – e todos os mega-eventos, como as Copas do Mundo de futebol e rugby, a Eurocopa e a Copa América de futebol – se tornaram vitrines de nacionalismo extremo! Até agora, não há exceções! Basta olhar para a enorme festa em torno dos Jogos Olímpicos de Pequim, os Jogos Olímpicos de Sochi e os Jogos Olímpicos de Londres.

Rio 2016 não será uma exceção. Como sabemos, quando se trata de nacionalismo extremo, os efeitos podem ser muitas vezes positivos e muitas, negativos. Se os times da casa têm um bom desempenho – o que é uma grande possibilidade, considerando a vantagem de competir nos campos, nas pistas e nas quadras que conhecem bem – sempre há histórias positivas e um bem-estar geral. Muitas vezes, estes sucessos encobrem os problemas do dia-a-dia, as manchas cotidianas como escândalos políticos e corrupção, realidade que o Brasil tem vivenciado nos últimos meses.

Q: O senhor acredita que ganhar algumas medalhas pode dar um impulso positivo ao país ?

R: O sucesso nos esportes cria um sentimento positivo instantâneo, e consequentemente benefícios sociais a curto prazo. Infelizmente, esses sentimentos não duram, e quando “o circo” deixa a cidade, os problemas virão à tona mais uma vez, porque, claro, eles nunca deixaram de existir.

No entanto, se a equipe da casa tem um desempenho ruim nos campos, nas pistas e nas piscinas – ou se os jogos apresentarem problemas organizacionais e logísticos – o constrangimento que vem à seguir e as frustações serão imediatas e levarão a desenvolvimentos negativos e críticas.

Q: Falando sobre futebol, depois da derrota do Brasil para a Alemanha (7-1) durante a Copa do Mundo, os fãs brasileiros ficaram devastados. O senhor acredita que uma medalha conquistada pela equipe nacional realmente faria diferença?

R: Se a considerada grande Seleção (em outros tempos) finalmente ganhar sua primeira medalha de ouro no futebol olímpico – o único troféu que o time nacional ainda não conseguiu – os problemas de Dilma Rousseff devem ser minimizados por algumas semanas, o vírus ZIKA vai se tornar menos relevante, e o Brasil vai comemorar um momento de bem-estar no palco mundial. No entanto, os graves problemas enfrentados pelo país não serão aliviados.

Q: Sobre Dilma Rousseff. O senhor realmente acha que sua situação política pode mudar se os atletas brasileiros tiverem um grande desempenho nos jogos?

R: Minha hipótese é que se o Brasil tiver um bom desempenho, a sua situação vai mudar. Posso até apostar que Dilma Rousseff deve sobreviver a esta crise e pode até retomar o poder. Se o Brasil não atender às expectativas (eu não sei quais são elas), se o desempenho for fraco, a situação pode ficar ainda mais complicada. Os jogos olímpicos servem para mostrar quem pode andar com o peito inflado de orgulho. Então, novamente, se o time da casa vai bem nas competições, se cria um enorme bem estar e um grande orgulho nacional. E é isso o que importa nesta competição.

Andrei Markovits é professor de Política Comparada e Estudos sobre a Alemanha, e um dos autores dos livros “Offside: Soccer and American Exceptionalism,” “Gaming the World: How Sports Are Reshaping Global Politics and Culture” e “SPORTISTA: Female Fandom in the United States.” Ele escreveu inúmeros artigos acadêmicos sobre vários aspectos do esporte e suas culturas. Contato: 734-213-2226, andymark@umich.edu